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terça-feira, 15 de março de 2011

Doses Minerais devem ter Equilibrio

Água extraída de fontes naturais traz consigo elementos benéficos à saúde, como o bicarbonato, o magnésio e o cálcio, mas também teores de sódio, que, se somados à alimentação diária, podem prejudicar o organismo de quem tem cálculo renal ou hipertensão

Celina Aquino

Muito se fala a respeito do valor terapêutico da água mineral, mas pouco se conhece sobre o assunto. Não há estudos que comprovem a crença popular de que os sais minerais da água podem agir como remédio. "Não existe água medicamentosa", atesta a professora da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Sérgia Maria Starling Magalhães, que coordena o Laboratório de Saúde Pública/Água. "As pessoas têm a ideia de que vão ter benefícios ao consumir a água mineral. O benefício se restringe a você tomar uma água que não passou por um processo químico de tratamento", avisa.

Ao analisar a composição da água mineral, é fácil perceber que ela contém elementos realmente benéficos à saúde. O bicarbonato alivia os sintomas de doenças estomacais como gastrite; o cálcio é indicado para fortalecer ossos e o magnésio melhora o funcionamento do sistema nervoso. A questão, porém, é que nosso corpo só absorve os sais minerais quando está carente deles. "Um indivíduo sem problema de saúde não vai aproveitar os componentes da água", esclarece Sérgia.

A polêmica ainda se deve ao fato de que os elementos saudáveis da água mineral também estão presentes em alimentos que fazem parte do nosso cotidiano. Isso significa dizer que o bicarbonato, o cálcio e o magnésio podem ser obtidos a partir de uma alimentação equilibrada. A professora da UFMG dá o exemplo de uma pessoa anêmica. Se ela tomar água ferruginosa, com certeza vai ser beneficiada, mas terá uma melhora ainda maior se comer alimentos ricos em ferro. "Se você tiver uma alimentação adequada, essa água não vai contribuir em nada para um melhor desempenho da saúde", afirma.

É bom ficar atento porque, em alguns casos, a água mineral pode ser prejudicial. Quem sofre de insuficiência renal deve evitar o consumo de água muito rica em sais minerais, pois eles podem se acumular no organismo e gerar problemas metabólicos. "Ocorre o comprometimento do sistema excretor e, em vez do benefício, a água pode comprometer a saúde", alerta Sérgia. Outro exemplo é o fluoreto. Altas concentrações do componente podem causar danos aos dentes, principalmente em crianças na primeira fase da dentição. "Nesse caso a água tem efeito negativo. Ela pode até estar dentro dos parâmetros, mas vai gerar problema para uma criança", diz a professora mineira.

Deve-se dar atenção especial ao sódio, considerado um dos maiores inimigos da saúde para toda a população. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reduziu de 6 gramas para 5 gramas a quantidade máxima de sal que podemos consumir por dia, o que corresponde a cinco colheres de chá rasa. "A cada grama que reduzimos, diminuímos a proporção da população com hipertensão, infarto e derrame", afirma o presidente do Departamento de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcus Vinícius Bolívar Malachias.

Não é que a água mineral vá provocar doenças cardiovasculares, mas, ao ingeri-la, a pessoa está consumindo uma porção a mais de sódio, mesmo que seja pequena, que vai se somar ao que está presente em quase todos os alimentos. "Numa alimentação urbana, comemos 2g de sal devido ao sódio já incluso nos alimentos, sem considerar o que adicionamos nas refeições", explica o médico. A quantidade de sódio presente em 1g de sal de cozinha, por exemplo, é de 0,4g. Um pão francês costuma ter 0,3g. Já os temperos prontos contêm 2g em cada tablete. Juntando tudo, o brasileiro come, em média, 10g de sal por dia, bem acima do indicado pela OMS. Só para ter uma ideia, os índios ianomâmis consomem menos de 0,5g de sódio por dia. Não é à toa que entre eles o índice de hipertensão é zero.

HIPERTENSÃO

Por esse motivo é recomendável optar por uma água mineral com baixo teor de sódio (menos de 5mg/l). Entre as marcas comercializadas em Belo Horizonte, algumas contêm menos de 1mg/l de sódio, enquanto outras concentram mais de 30mg/l, principalmente as gasosas.

A preocupação da OMS é com a hipertensão, principal fator de risco para doenças cardiovasculares, que representam a maior causa de morte no mundo. No Brasil, 30% das mulheres e 36% dos homens adultos sofrem de pressão alta. Mais de 30% dos óbitos (300 mil) registrados por ano aqui estão ligados a problemas cardíacos e circulatórios. A primeira causa de morte é o acidente vascular cerebral que, em 80% dos casos, vinculado à hipertensão. Em segundo lugar, vem o infarto. Metade dos brasileiros que morrem em decorrência de ataque cardíaco tem pressão alta. "Com a hipertensão, a expectativa de vida é reduzida em 16 anos. Veja quanta vida é jogada fora", comenta Malachias.

O sal, por meio do mecanismo conhecido como osmose, faz com que o organismo aumente a retenção de água para dar conta de diluí-lo. Com isso, as artérias ficam com volume maior. "O sódio incha a parede das artérias e diminui o calibre delas, aumentando a pressão", explica o cardiologista. A substância ainda promove a contração dos vasos sanguíneos ao inibir uma substância dilatadora chamada de óxido nítrico, que é um gás produzido pelo endotélio (parede das artérias). "O óxido nítrico é importantíssimo para a saúde, pois mantém as artérias com bom fluxo de sangue."

Não podemos ser injustos: o sódio não assume só papel de vilão e é considerado um dos elementos fundamentais para a vida. "Ele participa de funções vitais do organismo. Controla o tônus das artérias, a contração dos músculos, regula a pressão e ajuda no fluxo sanguíneo", afirma Malachias. Em baixa concentração, o sódio repõe a perda de água no organismo e facilita a transmissão nervosa. A falta dele (hiponatremia), inclusive, é muito grave e pode provocar problemas neurológicos, como degeneração e confusão mental.

O QUE É

Considera-se mineral aquela água de fonte natural que atingiu profundidades maiores e se tornou enriquecida em sais absorvidos das rochas do entorno de onde é captada. O único processo pelo qual ela passa antes de ser extraída é o de purificação, em que filtros com poros minúsculos são usados para reter os micro-organismos e só deixar o líquido sair. A água que chega à nossa casa também é oriunda de fonte natural, mas precisa passar por uma série de processos para se tornar própria para o consumo. Por isso, a água mineral é tida como mais pura e mais saudável.

ANÁLISE DA ÁGUA

Em Minas Gerais, é a Fundação Ezequiel Dias (Funed) que analisa a água mineral comercializada no estado. No ano passado, das 53 marcas avaliadas, 33 foram reprovadas na análise de rotulagem, uma foi notificada devido à presença de coliformes fecais e três foram reprovadas por conter pseudomonas aeruginosa (uma bactéria gram-negativa extremamente versátil, que pode ser encontrada em diversos ambientes). Não houve amostras reprovadas nas análises físico-químicas. O resultado é repassado para a Vigilância Sanitária, órgão que fiscaliza e pune as indústrias de água mineral. O produtor pode ser multado ou até interditado, dependendo da gravidade do problema. "Mais que analisar, é muito importante fazer a inspeção no local. A amostra pode não representar tudo que está ocorrendo na empresa", afirma a gerente de Vigilância Sanitária de Alimentos, ligada à Secretaria de Estado de Saúde de Minas, Cláudia Parma.

Fonte: Estado de Minas

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