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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Sem medo de ser grande







As ambições de Nelson Eggers, o ex-faz-tudo que hoje comanda a expansão da Fruki em um mercado dominado por multinacionais



Por Felipe Prestes

O presidente da Fruki, Nelson Eggers, tem um sonho: colocar sua empresa entre os maiores fabricantes de refrigerantes do país e se consolidar como uma alternativa de peso às grandes marcas globais que dominam o setor. É claro que, por enquanto, o sonho parece um tanto distante. Até o final deste ano, por exemplo, se tudo sair conforme o planejado, a Fruki deverá registrar um faturamento bruto total de R$ 200 milhões – o equivalente a um décimo das vendas da Vonpar, que representa a Coca-Cola no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Mas quem conhece Nelson garante: ele não mede esforços para concretizar o que quer. “O sonho é o crescimento da empresa”, assegura a filha, Aline Eggers Bagatini, diretora administrativa e financeira da empresa.



A história está a favor de Nelson. Nos últimos 52 anos, ele transformou o pequeno empreendimento familiar, fundado pelo avô, em 1924, em uma marca respeitada em todo o Rio Grande do Sul. Agora, Nelson quer mais. Embora enfrente empresas globais, ele acredita que a Fruki também pode, um dia, tornar-se um gigante do setor de bebidas. “Todas essas grandes marcas já foram pequenas em um determinado momento. É nisso que a gente se ampara. Quem sabe não vamos ser um desses grandes um dia? Impossível não é”, sorri. A quem questiona tamanhas ambições, o empresário enumera alguns argumentos. “Das 50 maiores empresas do mundo há 50 anos, restam hoje menos de dez. Os grandes desaparecem também”, aponta. E a Fruki, garante ele, ainda tem muito espaço para aparecer. Atualmente, o plano de Nelson é fazer com que a empresa chegue a uma receita bruta de R$ 1 bilhão até 2020. Ou seja: quintuplicar as vendas em pouco menos de oito anos. “Está todo mundo entusiasmado com esse desafio”, conta ele.



Apesar de mirar no alto, Nelson atua com os pés no chão. Mesmo com o sucesso das bebidas da marca Fruki, especialmente da linha de guaranás, responsável por mais de metade das vendas, a empresa ainda não se aventurou fora do Rio Grande do Sul. “A gente só faz o que pode cumprir, não fica fazendo loucuras. Por isso que estamos com 88 anos de existência”, enfatiza o empresário. “Mas é claro que, para chegar a R$ 1 bilhão em 2020, já teremos de estar em outros Estados”, conta.



Por ora, a Fruki acredita que ainda tem muito a crescer em solo gaúcho. Mas o crescimento também é pensado de forma cuidadosa por Nelson Eggers. A escolha da cidade-sede da nova fábrica da empresa, por exemplo, ficou parada nos últimos meses – simplesmente para evitar que os futuros prefeitos fizessem uso eleitoral da decisão. “Tem 30 municípios candidatos. Se a gente fosse definir isso antes da campanha, 29 municípios iam ser contra. Um partido ia acusar o outro nos municípios. Então, deixa assim. Vão se eleger novos prefeitos e vereadores e aí retomamos as negociações”, assegura Nelson, que garante nunca ter se interessado por política partidária.



Orçada em R$ 30 milhões, a nova fábrica é parte do esforço que a Fruki vem fazendo para expandir seu portfólio de bebidas focadas no bem-estar e na saúde – como sucos, chás, bebidas derivadas de soja e energéticos. A previsão é de que a unidade entre em funcionamento até 2014. Tudo feito com a máxima cautela. “Lentamente, iremos buscando o conhecimento e a tecnologia para cada produto”, explica Nelson.



Se eles se incomodam...



Por enquanto, Nelson não tem a ambição de bater de frente com Coca-Cola, Pepsico, Ambev e outras gigantes do setor de bebidas. Para ele, a competição é uma simples consequência de um objetivo anterior – que é tornar a Fruki cada vez mais relevante no mercado nacional. “Não quero incomodar ninguém. Só quero que nós tenhamos uma venda grande. Agora, se eles se incomodam, aí é problema deles”, garante ele, com peculiar bom humor.



No dia a dia, aliás, Nelson é uma pessoa de trato fácil, que gosta de brincar. Riu e fez rir duante boa parte da entrevista concedida em seu escritório, na sede da Fruki, à margem da BR-386, em Lajeado. Ao posar para fotografias na linha de produção, comentou que era difícil “a vida de modelo”. A seriedade só entra em cena quando é realmente necessária – diante de algumas perguntas da reportagem de AMANHÃ, por exemplo, Nelson fazia anotações antes de começar a respondê-las, como forma de não esquecer nenhum ponto importante. “Não gosto de me promover, nem acho que mereça, mas gosto de promover a Fruki e seus produtos”, justifica.



O diretor comercial da Fruki, João Carlos Miranda, diz que Nelson é sempre sereno e brincalhão – e que é assim que conquista o respeito dos profissionais da empresa. “Ele não altera a voz em nenhum momento e não impõe sua vontade. Ele conquista as pessoas”, descreve. Na Fruki há quatro anos, Miranda é a primeira pessoa de fora da família a assumir o cargo de diretor comercial. “Ele me conquistou desde a primeira entrevista com o jeito simples, mas objetivo dele. Noto muito a paixão no olho dele”, elogia Miranda.



Nelson valoriza a motivação dos funcionários para fazer a Fruki crescer. E garante: o fato de ser bem menor do que as concorrentes ajuda a empresa a manter o moral elevado entre as equipes. “Como a Fruki está crescendo bastante e as grandes marcas já são muito grandes, quem vem de fora tem orgulho de participar desse crescimento”, avalia Nelson. “Já naquela empresa que está consolidada, com marca forte internacional, o sujeito só tem de ir lá e trabalhar. Está tudo pronto.” Os números recentes dão consistência à visão do empresário. Até pouco tempo atrás, ele acreditava que as vendas da Fruki cresceriam 14% em 2012. Em vez disso, estão crescendo 25%. “A Fruki a cada ano vai crescendo mais e o cara diz: A minha parcela eu estou dando neste crescimento, explica.



O comprometimento não significa necessariamente trabalhar mais que o devido. Ao contrário: Nelson faz questão de que todos os funcionários cumpram rigorosamente a jornada de oito horas diárias. “Ele diz assim: O dia tem 24 horas: oito para trabalhar, oito para descansar e oito para curtir a família, lazer, leitura, estudo, conta a filha, Aline. Nelson repete exatamente a mesma coisa quando o questionamos sobre o tema. “A pessoa não pode focar só em uma coisa: só no trabalho, só dormir, só fazer esportes. Tem de se dividir. Sempre falo em três vezes oito: que ele trabalhe oito horas, descanse oito horas e tenha oito horas para a família, para o lazer. Tem de ter tempo para ler e para adquirir conhecimento.”



Aline conta que essa filosofia faz com que horas extras não sejam bem-vistas pelo pai. “Em grandes empresas, muitas vezes não há horário: a hora em que der para almoçar, a gente almoça; e se vai embora em altas horas da noite”, critica ela. Na Fruki, esse tipo de desorganização é abominada. “A gente tem uma regra muito clara, que vem dele [Nelson]: não é para fazer hora extra, não é para ficar depois do horário. Se tu não estás conseguindo, é porque estás mal organizado”, conta Aline. O próprio Nelson segue à risca a ideia de não se dedicar unicamente ao trabalho. Joga tênis três vezes por semana, frequenta academia e gosta de ler. “No dia em que ele tem atividade física, avisa que a reunião tem de terminar pontualmente. Se isso não acontece, ele se levanta e sai”, conta Aline.



A preocupação em diversificar a rotina se reflete também nas leituras. Ao escolher um livro. Nelson faz o possível para não pensar somente em negócios. “A gente não pode só querer ler assuntos econômicos. Tem de ler um romance, tem de quebrar um pouco. Agora, eu estou lendo A Escola dos Deuses. Estou na página 80 e ainda não estou entendendo. É um negócio de ir longe”, diz ele, rindo. Sobre a prática do tênis, Nelson também brinca. “Jogo há muitos anos com um grupo de amigos, mas não sei se ainda dá para dizer que a gente joga tênis. A gente brinca tênis”, afirma, fazendo troça com a própria idade, que ele não revela para ninguém. “Eu sempre respondo: eu já fiz 60 anos. Agora, quanto tempo faz isso, eu não contei mais.”



Quando Nelson Eggers começou a trabalhar, há 52 anos, a marca Fruki ainda nem existia – era apenas uma pequena fábrica de bebidas em Arroio do Meio, no interior do Rio Grande do Sul. Na época, Nelson era uma espécie de faz-tudo. “Eu lavava garrafas manualmente, carregava caminhões. Não me pergunte o que eu já fiz, mas o que eu não fiz”, conta o atual presidente da companhia.



Em 1971, a empresa se mudou de Arroio do Meio para a atual sede, em Lajeado. A troca de endereço é considerada por Nelson um dos principais motivos para o salto nos negócios. “Tivemos uma data de fundação lá em 1924 e eu acho que a segunda fundação é a vinda para cá”, explica. Em Lajeado, garante ele, a Fruki entrou no radar das entidades empresariais e começou a estabelecer contatos estratégicos com outras companhias – o que gerou um aprendizado vital. “Eu também participei da diretoria da nossa universidade [o centro universitário Univates] durante dez anos. Estivemos muito próximos de autoridades. A gente fica sabendo melhor dos projetos, incentivos fiscais”, explica.



Na nova sede, Nelson continuou fazendo de tudo. Foi responsável, por exemplo, pela instalação elétrica do prédio em que conversou com AMANHÃ. E foi o criador da fórmula do Guaraná Fruki. Naquela época, o “químico” da empresa era o tio de Nelson – um sujeito sem qualquer formação técnica. Foi ele que passou ao sobrinho os conhecimentos mais básicos sobre a formulação de refrigerantes. “O tio dele tinha uma colher para medir as quantidades que foi se corroendo com o tempo. Mas ele [Nelson] continuou usando aquela colher, mesmo quando ela já estava bem menor”, conta Aline.



Nelson não tem vergonha de dizer que o guaraná é como um filho para ele. “Eu tenho muitos defeitos, e talvez este seja um deles: faço questão de dizer que é filho meu. É meu sétimo filho. Mas não é só o guaraná, é a empresa”, ilustra. Em boa forma, ele garante que toma bastante guaraná. “E, olha, não sou gordo. Quem se sente mais gordo e acha que é por causa do refrigerante, deve ter comido muito churrasco também.”



Aline relata que, há pouco tempo, o pai sabia até o nome dos filhos dos funcionários. Hoje, com a Fruki empregando cerca de 750 pessoas, esse tipo de proximidade ficou quase impossível. Mas Nelson não perde a chance de se colocar em contato com as equipes. “Tem integração com funcionários novos toda semana. Ele faz questão de participar e dar as boas-vindas. Também faz questão de entrevistar todos os gerentes que são contratados”, revela a diretora administrativa e financeira da Fruki.



Nelson jamais parou de se atualizar, participar de cursos, congressos e treinamentos. Neste ano, por exemplo, ele foi à Europa buscar equipamentos, ver novos produtos e novas tecnologias. “A maioria das pessoas, com 52 anos em uma empresa, quer mais é se aposentar”, ressalta Miranda, o diretor comercial. Nelson, no entanto, nem cogita se aposentar. Quer seguir em busca do sonho de ver a Fruki cada vez maior. Aliás, essa é uma das razões pelas quais ele mantém a idade em segredo. Apontando para Aline e para outro de seus seis filhos, Júlio, que também trabalha na empresa, ele explica: “Se eu disser minha idade, o pessoal aqui vai marcar uma data de validade. E essa data de validade eu é que quero marcar. Eu ou aquele ser superior”.

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