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sábado, 7 de novembro de 2009

O feminista e o galão de água mineral



        Quando acaba a água no bebedouro do escritório não demora até aparecer uma colaboradora pró-ativa para resolver o problema:
         — Será que não tem um homem forte nesta sala para virar o galão de água mineral ?
Imediatamente, vão surgindo as desculpas:
         — Estou com uma séria lombalgia.
         — Tenho que terminar esse relatório urgente.
         — Cadê o pessoal dos serviços gerais?
Algumas vezes eu já virei o galão, mas antes disso sempre pergunto:
         — Será que nenhuma mulher moderna da sala se habilita a executar essa operação braçal?
Felizmente, lá no escritório existem mulheres que viram galão de água mineral. Infelizmente são poucas; a maioria delas ainda torce o nariz diante da tarefa, como se tudo que envolve esforço físico fosse coisa de homem.
          Durante quase toda a História, as mulheres realizaram atividades que envolvem esforço físico moderado. Minhas avós, Judite e Sofia trabalhavam na roça, capinavam, tiravam água do poço, tratavam os animais, partiam lenha, debulhavam milho. Essa história de dizer que mulher não pode fazer esforço físico é invenção moderna. Provavelmente, começou no pós-guerra com a proliferação dos aparelhos elétricos de uso doméstico. Com a eletricidade dentro de casa, algumas mulheres passaram a crer na ideia de que o máximo esforço que devem realizar é apertar botões. Juntando essa crença com a lógica da divisão de papéis e tarefas da sociedade industrial criou-se a cultura de que mulher faz algumas coisas e homem faz outras. Homem faz força e mulher faz limpeza. Com honrosas exceções, lá no escritório essa divisão continua em vigor. Uma mulher limpa o galão, passa álcool e um homem forte vira o galão no bebedouro.
         Como homem feminista que sou, conclamo essas mulheres saudáveis e saradas das academias a galgarem um novo patamar da libertação feminina. A mulher do século XIX tinha deveres. a mulher do século XX tinha direitos, a mulher do século XXI tem direitos e deveres. Decididamente, a libertação da mulher passa por trocar um pneu e pagar a conta do motel.
Texto tirado do blog de : http://radamesm.wordpress.com/
Crédito de imagem: Submarino

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