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domingo, 6 de novembro de 2011

O gosto da água

A universalização da água vai da agricultura até a harmonização de cardápios, como acontece tradicionalmente com o vinho.
Cada vez mais surgem bares que vêm se dedicando a especialidade de servir “água”.  Água com designação de origem, com características especiais. Água para matar a sede, e especialmente para ser apreciada, interpretada, saboreada, degustada.
O direito à água integra a Declaração dos Direitos Humanos, Artigo 03, que se refere ao direito à vida (ONU).
A nossa água, nativa, é orientada pelo Código de Águas do Brasil, conforme o Decreto-Lei 7.841, de 08 de agosto 1945, que diz: “águas minerais são aquelas provenientes de fontes naturais ou que possuam composição química ou propriedades físicas ou físico-químicas distintas das águas comuns (…)”.

Há um crescente processo de valorização da água mineral no seu conceito de “terroir”, para se garantir identidade, e demais elementos singulares, onde a marca, a embalagem, a validade, a composição mineral, formam os principais indicadores para se ter acesso ao tipo, e ao sabor. Todos esses elementos compõem os rituais de uma verdadeira degustação e análise, como ocorre com os vinhos e outras bebidas.

Segundo a “Mineral water of the world”, há mais de 3500 marcas no mercado, em 135 países, o que resulta em muitas ofertas, e num cardápio de diferentes sabores, procedências e características.

A água é avaliada desde suas propriedades minerais até a embalagem. Pois, a embalagem, além de garantir a qualidade de tão precioso líquido, anuncia e dá identidade à marca.

Muitas vezes as embalagens são especialmente desenhadas e “assinadas”, como, por exemplo, é o caso de Jean-Paul Gaultier que desenhou garrafas que foram produzidas com o cristal “Baccarat”. Ainda nesse contexto de embalagens notáveis com designer especial estão as marcas “Bling” (USA) e “Vois” (Noruega).
Certamente a água é a bebida mais popular, uma bebida necessária e fundamental. Uma bebida que vem ganhando especialistas em sua degustação, apreciação; nas misturas, e nas criações de se fazer drinques de águas minerais.

As atribuições medicinais da água mineral que sempre distinguiram um consumo qualitativo e definiram um mercado, agora se ampliam para a  gastronomia.

O crescente consumo de água mineral indica preferências por procedência, estância hidromineral, composição da água, embalagem entre demais fatores que valorizam, e dão opções para o seu consumo.
Alcalinas-bicabornatada, alcalinas-terrosas, sulfatadas, nitratadas, cloretadas, ferruginosas, carbogasosas, são algumas das características e propriedades encontras na composição das águas minerais.
Tudo isso reforça a busca crescente de produtos naturais e saudáveis no mundo. Pois, crê-se que ao beber água mineral também se bebe a natureza.

Sem dúvida, a água é um caso que une memórias ancestrais com o “glamour” da gastronomia do século 21. Interpreta-se, atualmente, a água mineral como uma bebida para a harmonização de cardápios.

O consumo de água mineral no mundo é maior do que o de refrigerantes (2007), e esse fato revela a crescente busca pelos sabores verdadeiramente “telúricos”.

Também, são muito valorizadas as águas de certas geleiras, de montanhas famosas, de localidades com solo vulcânico; de regiões que agreguem uma história, um sentido especial e particular, pois ao se beber aquela água mineral  “bebe-se o lugar”.

É o mundo líquido nas suas muitas possibilidades: é a melhor “seiva” que se oferece à boca. É uma busca à mesa pela natureza. Prevalece um sentimento ancestral de purificação.


* Raul Lody é antropólogo, museólogo, pesquisador na área de alimentação com diversos livros publicados e, entre outras atividades, é idealizador do Museu de Gastronomia Baiana.

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