Sete em cada dez motoboys têm problemas de saúde mental
Renato Gava
renato.gava@diariogaucho.com.br
Ao avaliar as condições de saúde mental de uma centena de motoboys da Capital, pesquisadores da Ufrgs revelaram um cenário preocupante: de 101 entrevistados, 75% tinham ao menos um diagnóstico de doença psiquiátrica - de crise de ansiedade e mudança brusca de humor até transtorno de personalidade, incluindo uso de álcool e drogas.
Os profissionais foram recrutados em um estacionamento, empresas de tele-entrega e no HPS. No hospital, a investigação foi com motoboys que se acidentaram entre 2006 e 2008. O levantamento faz parte de um trabalho lançado na segunda-feira, em Brasília, pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trânsito e Álcool da Ufrgs.
Os voluntários responderam questionário e passaram por entrevistas. Mais da metade sofre de algum distúrbio psicológico e 54% apresentaram dois ou mais diagnósticos.
Os resultados não surpreenderam o presidente do Sindicato dos Motoboys (Sindimoto), Valter Ferreira. Para ele, o estudo mostra a realidade de muitos dos 15 mil motoboys da Capital submetidos diariamente ao estresse extremo:
- Essa pesquisa é importante, mostra que esse profissional precisa de mais atenção e sofre com más condições de trabalho.
37% não têm carteira assinada
A opinião de Valter encontra respaldo na pesquisa. Dos 101 participantes, 37 não tinham carteira de trabalho assinada e a maioria circulava, em média, nove horas e 48 minutos por dia. E 23 disseram trabalhar sete dias por semana.
"Rezo todos os dias para voltar inteiro "
Sem se identificar, um motoboy de 37 anos (12 de profissão) define sua atividade como uma guerra. Casado e pai de três filhos, tem três empregos.
Diário Gaúcho - Como é a sua rotina de trabalho?
Motoboy - Trabalho das 8h às 18h numa associação e das 18h30min à meia-noite como entregador em lancheria. Aos sábados, trabalho das 11h às 14h30min para uma galeteria e das 18h30min à 1h para a lancheria. Domingo das 11h às 15h. Quero mudar isso.
Diário - Você é pressionado a correr?
Motoboy - Sim. Se eu não fizer o serviço rápido, o cliente vai chamar outro motoboy.
Diário - Já sofreu acidentes?
Motoboy - Entre quedas e batidas, já sofri uns dez ou 12. Em 50% a culpa foi minha. E tive problemas com álcool, foi a causa de muitos acidentes. Deus me deu uma sacudida e parei.
Diário - Você sofre com estresse?
Motoboy - É como se fosse uma guerra. As ruas são um campo minado. Rezo todos os dias para voltar inteiro para casa. Já perdi muitos colegas.
DIÁRIO GAÚCHO
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